quarta-feira, 5 de junho de 2013

Amas...

Hoje ao sair da aula da manhã passei novamente pelas duas amas que vivem ali perto da escola. 
Desta vez tenho mesmo de comentar... esta coisa de andar ao mais barato tem muito que se lhe diga!
Uma delas (uma senhora já com alguma idade) levava os seus 6 meninos de sempre - de mãos dadas a dois deles e os outros de mãos dadas aos colegas. Devem ter mais ou menos 3 anitos, o maior (parece ser o mais velho) foi aquele que fui buscar ao meio da estrada no outro dia... depois conto-vos esta!
Nenhum deles usava chapéu, três deles seguiam do lado da estrada...
A outra senhora tinha hoje mais um "freguês" do que o normal: uma menina que deve ter 9 anitos, um menino de mais ou menos 4, outro que deve ter 2 e agora um bebé de meses num carrinho de alcofa.
Ela seguia com os rapazes pela mão e a menina estava responsável pelo bebé. A certa altura o bebé deve ter chorado e a senhora foi logo ver o que se passava, o que até parece bem, se ela não tivesse automaticamente largado os dois meninos pequeninos que ficaram sozinhos no passeio mesmo junto à estrada onde estavam a passar os carros.
O que vi esta manhã, juntamente com os relatos da minha avó sobre a sua vizinha que também é ama (diz ela que a senhora usa a mesma colher para dar a sopa aos 7 meninos que tem em casa - claro que inicialmente ela contou isto como se a senhora fosse muito desenrascada e experiente, só depois é que percebeu que a ideia de 7 meninos e 1 colher não batia muito certo!) e ainda as histórias que conheço de meninos que ficavam dias inteiros deitados enquanto as amas limpavam a casa (ou iam ao café!) ou casos de saúde que se complicaram por falta de resposta leva-me a pensar nas amas de forma muito desconfiada....
E agora vocês pensam: claro que eu desconfio afinal sou educadora e elas são a concorrência! É verdade, mas o facto de ser educadora não dá uma "aversão" gratuita, a verdade é que ao longo dos anos eu aprendi a distinguir os meninos que vinham da avó, da ama, da mãe ou de outras escolas sem ler relatórios ou conversar com os pais. Estou certa de que a maioria das minhas colegas também desenvolveu esta capacidade, e porquê? Porque as diferenças em termos de desenvolvimento cognitivo e emocional são gritantes!
Muito para além das dificuldades de convivência social ou de linguagem (que são as mais comuns), existem muitas outras coisas que vão ficando pelo caminho....principalmente a segurança....já pensaram: quem fica com as crianças quando a senhora vai à casa de banho? E quando ela está a cozinhar?  E quando uma criança vomita?
Confesso que cada vez acho mais estranho esta falta de investimento na educação... pessoal, a roupa não tem de ser cara, nem os sapatos têm de ser geox ou o carrinho de 700 euros, agora o sitio onde deixam os vossos filhos 8 horas por dia (por vezes mais) durante pelo menos 320 dias por ano e durante 3 ou 6 anos importa mesmo que seja bom!!!
Pelo menos estas duas senhoras de que falo vêm à rua com as crianças, muitas ficam  mesmo fechadas num apartamento todo o dia e todos os dias!
Para melhorar encontrei aqui uma revista Pais e Filhos onde indicam o que os pais devem ter em conta quando escolhem uma ama e quando escolhem uma escola... bem, é de rir !!!(ou chorar...)
Então não é que nas escolas têm de reparar em coisas como: luz natural, qualidade do ar, existência e localização de extintores, sinais de emergência nas portas, existência ou não de escadas, higiene, adequação dos espaços para confecionar comida, número de crianças por sala, modelo adotado, atividades desenvolvidas curricularmente, atividades extra, número de adultos por sala etc, etc, etc  e para escolher a ama os pais têm de: ver se a pessoa é carinhosa. Ponto!....
Mas que estranho, então mas nas amas as crianças já não precisam de luz, de segurança, de qualidade, de atividades..????? Não me digam que as casas das amas não podem arder, só as escolas é que têm essa ameaça? E as esquinas, escadas e mobília desadequada das amas não são perigosas, só as esquinas, escadas e mobília das escolas é que podem ser ameaçadoras? E melhor, nas escolas o carinho, amor, respeito, escuta, dedicação não são importantes??? 
Não sei que raio de escolas é que esta gente conhece!!
- "Pois e tal, mas eu andei numa ama e sou feliz" - pois, mas existem amas e amas e dê por onde der nunca têm a qualidade educativa e o profissionalismo de uma profissional que estudou no mínimo 4 anos para ser EDUCADORA. Nessa lógica, a minha avó também começou a cavar com 6 anos e está cá, porque não manter esse hábito?
Só quando os pais pararem de ser egoístas e de decidir o dia a dia da VIDA dos filhos pelo que lhes dá mais jeito e lhes é mais fácil ou conveniente (é mais perto, é mais barato, é menos exigente) é que isto pode mudar alguma coisa. 
Se uma criança chora na escola é porque não se está a adaptar à escola, se chora na ama é porque tem saudades da mãe...não sei se estão a perceber a diferença, ou que estou a querer dizer..
E não me venham com a história do dinheiro porque existem por ai muitas escolas boas e baratas e muitas vezes é tudo uma questão de prioridades.  As belas férias no México ou o aspirador kirby já pagam a mensalidade por um ano e o valor da bimby também dá para uns belos tempos (claro que existem casos e casos). 
Cada um sabe si....mas pobres das crianças que pelos vistos "não sabem nada".
E só para que fique bem claro: as educadoras também ADORAM os seus meninos e também constroem com eles uma relação que, se for permitida pelos pais, dura uma vida inteira!