Ó Tia dá Bolinho?

Halloween...ora aqui está uma efeméride que me deixa um bocadinho desconfortável.

Não compreendo esta necessidade portuguesa de valorizar tudo o que é dos outros e nunca gostei da excessiva atenção, cada vez mais evidente, que se dá ao dia de Halloween.

Que a professora de Inglês decida festejar esta data até entendo e acho muito bem, mas fingir que esta festa é nossa e que faz parte das nossas celebrações é, na minha opinião, um atentado à nossa cultura.

Sim é uma tradição interessante, dá para explorar com várias actividades, mas não é a nossa e por vezes é usada de formas muito erradas! E se já acho estranho tentarem incluir este dia no nosso calendário de eventos, acho ainda pior quando o utilizam para substituir o verdadeiramente NOSSO Dia do Bolinho/Pão por Deus no 1 de Novembro.

Apesar de terem eliminado este feriado (o que continuo sem perceber) a tradição de ir ao bolinho é para mim das mais engraçadas, divertidas e interessantes que temos.

Lembro-me tão bem de ficar sem dormir na noite anterior com tanta excitação, de preparar as saquinhas para os bolos e para o dinheiro com todo o cuidado e dos planos e estratégias que desenhava com o meu irmão para conseguirmos ir ao maior número de casas possível.

Por volta das 6 da manhã já nós estávamos mais do que prontos e os nossos pais tinham de marcar uma hora para sairmos de casa de forma a garantir que não íamos acordar toda a vizinhança:)

Íamos sozinhos (ao contrário do que acontece agora em que os pais andam de carro para os meninos não se cansarem) e com toda a responsabilidade que aprendíamos nos outros dias do ano.

Era o dia de cumprimentar todos os vizinhos e pessoas da aldeia, falar com pessoas mais velhas, ouvir a expressão "estás tão grande" a cada 5 minutos e sorrir, dizer bom dia, agradecer...

Ficávamos contentes com os bolos, com o dinheiro, com as nozes e com os chocolates...mas o que eu mais gostava era dos chocolates, claro:P

Tínhamos de ser rápidos para conseguir bater a todas as portas antes da hora da missa e tínhamos de conseguir juntar o mais que podíamos dentro das nossas saquinhas, por isso, eu e o meu irmão tínhamos as nossas estratégias secretas:

1.Nunca nos juntávamos a um grupo muito grande (pois achávamos que assim recebíamos menos coisas),

2.Tínhamos um plano para percorrer as ruas de forma a dar a volta à aldeia sem repetir caminhos,

3.Deixávamos a família para depois do almoço (sabíamos que eles esperavam por nós)

4. A nossa canção maravilhosa que a nossa avó Luísa nos ensinou e que eu nunca mais esqueci:

Senhora que estás lá dentro

Bem sentada num banquinho

Faz favor de abrir a porta

Para nos vir dar o bolinho!

Ferrão ferrão ferrão que esta casa caia ao chão (para quando não abriam a porta)

Esta casa cheira a vinho aqui mora um anjinho (para quando abriam)

Por mim ainda hoje ia ao bolinho....aliás, ainda hoje vou, com a desculpa de que estou a acompanhar os meus primos:P

Deixei de ter a minha saquinha quando uma senhora me disse: "Menina, eu dava-te bolinho mas o meu filho é muito grande para a tua saca", que é como quem diz: já estás "casadoira", tens que te deixar destas coisas lolo... Ups, percebi logo a indireta e reformei-me:)

Mal posso esperar para ver o Levi ir ao bolinho...sim, porque podem acabar com o feriado mas na minha terra tem de haver bolinho, nem que seja no fim de semana a seguir ao dia 1!

Acho este dia fantástico! Tão fantástico que continuo a achar que a minha aldeia devia ser fechada ao trânsito para as crianças andarem 100% seguras e assim fazer dela o centro do bolinho para esta região:)